Restaurante O Victor: Não se trata apenas de bom bacalhau

Há restaurantes que justificam, por si só, que nos façamos à estrada. Plantados em aldeias ou vilas mais ou menos conhecidas, preservam saberes e sabores gastronómicos que, aliados à arte de bem receber, nos levam a dar como bem empregue a viagem. É esse, sem sombra de dúvida, o caso d’O Victor, restaurante situado na aldeia de São João de Rei, na Póvoa de Lanhoso, região de Braga, e que é especializado em bacalhau.

Para quem, como eu, é originário de uma região com fortes tradições na pesca, transformação e confeção de bacalhau, a fasquia, no que toca ao “fiel amigo” começa já a estar relativamente elevada, mas a verdade é que O Victor conseguiu surpreender. Pela qualidade do bacalhau que faz chegar à mesa, pelos petiscos e sobremesas que tornam a refeição ainda mais saborosa, e pela forma como recebe e serve cada cliente.

As boas-vindas estiveram por conta do próprio mentor do espaço. Aos 85 anos, Victor Peixoto faz questão de receber os clientes como quem recebe os amigos, o que ajuda a explicar o facto de por aquela casa de pedra já terem passado várias gerações de clientes, do bisavô ao bisneto.

A história daquela casa começou a desenhar-se em 1971, altura em que Victor Peixoto decidiu transformar em restaurante a mercearia/tasquinha do pai, negócio que já estava de portas abertas desde 1935. O bacalhau assado na brasa começou por ser logo a grande especialidade, tanto mais porque ele já era produto-rei na mercearia do pai.

Ainda hoje, passados tantos anos, a carta não é muito extensa, mantendo o foco em alguns pratos. Além do bacalhau, há camarão grelhado, costeleta de vitela com batatas a murro e, por encomenda, cabrito. Mas é a grande posta dourada, servida em travessa de barro e acompanhada do vinho da casa (Quinta Villa Beatriz), que nos enche os olhos e também o estômago – isto já depois de termos provado os bolinhos de bacalhau, presunto e chouriça assada da casa. Para encerrar em grande, um leite creme queimado na hora e fiel à receita que Victor Peixoto herdou da mãe.

No final, deixamos a promessa de voltar. Victor Peixoto promete voltar a receber-nos como quem recebe um amigo.