
Se houve coisa que aprendemos nestes tempos de pandemia foi a dar valor à natureza e ao ar puro. A vontade de passear é grande, mas as regras e os cuidados têm de ser levados a sério. É preciso desconfinar em segurança, procurar destinos e roteiros que nos permitam manter o devido distanciamento. E, acima de tudo, recuperar esse bem-estar que todos estes meses de confinamento nos roubou. Foi tudo isso que sentimos numa visita aos Jardins da Quinta das Lágrimas, em Coimbra, pouco depois de reabrirem ao público.
O convite chegou via email e parecia demasiado perfeito para ser verdade: “As cores, os cheiros e a beleza da natureza viva que aqui se encontra unem-se à história de mais de sete séculos da Quinta das Lágrimas para proporcionar momentos de fruição e paz, depois do último, longo e pesado período de confinamento (…)”. Não resistimos e fizemo-nos à estrada, em direção a Coimbra, numa bela manhã de sol e já com cheiro a privamera.
Mais do que um belo passeio, esta mancha verde tem para oferecer aos visitantes umas quantas lições de história e também de botânica. A sua origem remonta ao século XIV, altura em que a Rainha Santa Isabel mandou construir, na Quinta das Lágrimas, um canal para levar a água de duas nascentes para o Convento de Santa Clara. Este sítio ficou conhecido como “Fonte dos Amores”, também por ser aqui que ficou gravada para sempre a história da paixão de Dom Pedro, neto da Rainha Santa, por Dona Inês de Castro.
A outra fonte da Quinta foi baptizada de “Fonte das Lágrimas”, por ser mencionada por Luís de Camões como tendo nascido das lágrimas que as jovens de Coimbra (“as ninfas do Mondego”) choraram pela morte de Inês. O sangue de Inês terá ficado preso às rochas do leito, ainda vermelhas depois de 650 anos… “Lágrimas são a água e o nome amores”, escreveu Camões em “Os Lusíadas”.
Os jardins foram sendo modificados ao longo dos séculos. A sua atual configuração remonta ao século XIX, quando foi construído um jardim romântico, com lagos serpenteantes e árvores exóticas e raras. Muitas árvores para completar coleções foram plantadas nos anos 60 do século passado.

A partir da primeira década do nosso século, a arquiteta paisagista Cristina Castel-Branco restaurou e recuperou ao longo dos anos os jardins, entretanto na posse da Fundação Inês de Castro, projeto que incluiu a construção do anfiteatro Colina de Camões, que nos últimos 12 anos tem sido o palco principal dos espetáculos do Festival das Artes. Mesmo sem eventos, vale a pena reservar uns minutos para ficar ali sentado e contemplar a envolvente.

Por falar em contemplar, os Jardins da Quinta Lágrimas estão agora a promover, além das visitas guiadas tradicionais, experiências de banhos de bosque (Shinrin-yoku). No Japão esta terapia é reconhecida pelo sistema nacional de saúde para aliviar o stress. Basta estar atento à página de facebook daquele espaço para ir conhecendo a programação. Bom passeio!
Jardins da Quinta das Lágrimas
Morada: Rua José Vilarinho Raposo, 3040-901 Coimbra
Reservas e informações: 918108232 e jardinsdaquintadaslagrimas@gmail.com
