Quem lá vive ama o Tua, quem lá vai apaixona-se também. O Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT), que integra os municípios de Alijó, Carrazeda de Ansiães, Murça, Mirandela e Vila Flor, começa a ser, cada vez mais, o destino do amor.
“Tem paisagens deslumbrantes; um património único; gastronomia e vinhos, capazes de agradar aos mais esquisitos paladares; percursos pedestres para descobrir e miradouros para deixar o olhar viajar; tem espaços museológicos e centros interpretativos que lhe contam histórias e o convidam a explorar o território que, na sua essência, tem gente afável e hospitaleira, sempre pronta a partilhar este grande amor pelo Tua”, assim argumenta o PNRVT. E não é que tem razão?
Entre Mirandela e Alijó, o rio Tua é o principal responsável pelo desenho na natureza de paisagens únicas, algumas de cortar a respiração. São muitos os lugares a visitar mas o parque natural facilita-nos a experiência ao criar uma lista de “Lugares Imperdíveis”.
Começamos por Alijó. O Abrigo Rupestre Pala Pinta é classificado pelo PNRVT como “Um lugar Transcendental”. Chega-nos como a primeira fotografia do Vale do Tua, plasmada na morfologia rochosa da pala granítica que manifesta e regista um conjunto integrado de paisagens, motivos humanos e serpentiformes, visíveis a partir do local, evidenciando, acima da linha do horizonte, singulares e inesperadas conjunturas astronómicas. A Pala Pinta afirma-se deste modo, também, como impressionante observatório terrestre e celeste. Trata-se de um lugar especial onde o sol, as estrelas ou quiçá um cometa, com diferentes intensidades de luz e respetiva cauda, assumem uma grande visibilidade. E se a representação global se associa à passagem de um cometa que cruzou os céus há 7 milénios, este recanto do Tua suplantará, em vários séculos, os mais antigos textos do crescente fértil babilónico, que referiram expressamente a passagem de fascinantes motivos cósmicos pelos céus, como era o caso da passagem de um cometa.
Continuamos viagem até Murça e paramos no “Castro de Palheiros.”
É um povoado proto-histórico. A aproximação ao local faz-se através de uma paisagem matizada de pinhais e estevais, de culturas de oliveiras e amendoais e finalmente, através de uma encosta de características bem mediterrânicas, pejada de rosmaninhos, de azinheiras e de mais espécies autóctones. A ocupação deste cabeço, embora remonte ao Calcolítico e com abandono nos finais do III milénio aC, acabou por ser reocupado e de forma mais intensa já na Idade do Ferro, por volta do séc. V aC. Este promontório tem uma acrescida e complementar importância, como lugar de visita, de miradouro, de usufruto, de contemplação da natureza e como excelente observatório de estrelas, de plantas, de aves e de “leitura” geológica, bem assinalada na sua característica crista quartzítica.
Seguimos viagem até ao município de Carrazeda de Ansiães e aí paramos no lugar de São Lourenço, começa por ser um lugar de recolhimento e de silêncio, de meditação e de magia. Um lugar onde se dão os milagres da água, que jorra das paredes. Este local é muito procurado como espaço termal pelas qualidades curativas das suas águas, carregadas de fé e esperança. O santo assiste aos pedidos de cura e aos banhos sagrados na água sulfurosa, água fervente. Em termos paisagísticos o local é deslumbrante, tendo a seus pés o rio Tua.
Em Vila Flor o convite é para a contemplação fazendo o percurso pedonal Vilarinho das Azenhas – Ribeirinha. Em todo o Vale do Rio Tua não existe percurso mais plano, mais verdejante e mais equilibrado com a paisagem humanizada, como a estrada térrea que liga estas localidades, em permanente convívio com o rio selvagem e a antiga linha do caminho-de-ferro. É uma joia da oferta natural do Parque e que justifica uma visita por ser um santuário inigualável da paisagem ribeirinha.
Ainda com esta imagem bucólica quase poética continuamos até ao concelho de Mirandela para fazer uma pausa em Frechas. É um lugar onde a história e a Natureza se adensam! Inscrita num suave cabeço sobre o rio Tua e perdida nas memórias da história longínqua, o lugar faz-nos sentir bem. Acompanhou toda a história da ocupação humana na região e viu passar todas as águas de um rio cristalino. Com ele, estabeleceu profundos laços de cooperação, usando a sua frescura, a sombra do seu arvoredo, as águas que irrigaram terrenos, hortas e engenhos. Viu passar à sua porta estradas e comboios. De todos estes acontecimentos, guarda memórias.
Imperdíveis são igualmente os miradouros, são muitos e todos eles imponentes. Desta vez ficamos pelo Miradouro Olhos do Tua, em Castanheiro do Norte, Carrazeda de Ansiães, recentemente construído sobre as vertentes escarpadas do vale do Tua, permitindo uma vista privilegiada de todo o vale e do serpentear do rio.
Em Alijó foi recentemente inaugurado o Miradouro do Ujo, na localidade de S. Mamede Ribatua, que proporciona uma vista deslumbrante sobre o rio Tua, sendo deste lugar bem percetíveis as alterações paisagísticas que a construção da Barragem do Tua provocou, nascendo um espelho de água, onde se refletem as encostas do rio.
Dez percursos pedestres para explorar
Atualmente, o PNRVT conta já com 10 percursos pedestres devidamente homologados e sinalizados, todos eles deslumbrantes, todos eles diferentes. Até porque o vale do Tua prima pela diversidade incluindo da própria paisagem. Há zonas onde as manchas de floresta são predominantes, noutras sente-se a proximidade do rio Douro e começam a aparecer as vinhas.
Os cinco concelhos que integram o PNRVT estão dotados de equipamentos culturais diversos, centro interpretativos, museus, espaços de exposição, etc. O nosso olhar focou-se no Centro Interpretativo do Vale do Tua (CIVT), criado nos antigos armazéns da CP em plena Estação do Tua. Este projeto recuperou dois armazéns que já não eram utilizados, mantendo a traça original e utilizando materiais de construção eco-eficientes. A temática aborda foi a Linha do Tua, o Vale e a Barragem, estabelecendo a ligação entre o território e as suas gentes, o caminho-de-ferro e a barragem, assumindo-se como um local de passagem – a porta de entrada ou de saída numa região que envolve o Douro e Trás-os-Montes.
O tema “Vale”, pretende levar o visitante a envolver-se com o vale do Tua em toda a sua dimensão, natural e humana. Numa área tunelar (foi criado um túnel em cortiça) é recriada uma cápsula temporal que direciona o visitante num percurso de milhares de anos, desde a dimensão geológica e natural do vale até ao seu povoamento.
No tema “Linha do Tua” o objetivo é recordar e aproximar. A ideia é levar o visitante a recordar o caminho-de-ferro e compreender a realidade local, podendo envolver-se com o sentimento dos habitantes pela perda do acesso ao comboio. A ligação entre a via-férrea e os residentes do Douro e Trás-os-Montes é o momento que se celebra.
No tema “Barragem” quer-se levar o visitante a compreender este aproveitamento hidroelétrico como algo incontornável ao Tua, independentemente do posicionamento de cada um, demonstra-se a relação estabelecida pelo desenho do arquiteto Eduardo Souto de Moura, entre a paisagem e a exigência da tecnologia. A cenografia tenta demonstrar a coexistência da diversidade de opiniões, de paisagens e desenhos que culminaram no processo hídrico do Tua.
E claro, esta viagem de descoberta deve ser acompanha pela boa gastronomia regional, abençoada pelos vinhos generosos deste território, sempre em diálogo com as suas gentes de natureza afável e hospitaleira. Boa viagem!
Excelente, adorei o artigo de um local ainda desconhecido para muitos portugueses.
PARABÉNS PELA BELA PÁGINA 🙂
Obrigada Dercio ?