Deves estar a estranhar (e de que maneira) esta minha carta. Tirando aquela entrevista que fiz, há um ano, ao único Pai Natal certificado da Península Ibérica, há muito que não te dirijo a palavra.
Tenho de reconhecer que amuei (e muito) naquele longínquo Natal em que não me trouxeste o bebé careca que eu tanto queria. É verdade que o trouxeste no ano seguinte e é também verdade que me explicaram, lá em casa, que a culpa de tudo foi da empresa na qual o meu pai trabalhava. Não pagava salários há vários meses e não te conseguiu fazer chegar o dinheiro, a tempo e horas, para comprares o tão desejado bebé careca.
Desiludiste-me e muito. Mesmo depois de ter descoberto que não passavas de uma personagem criada pelos adultos, o meu amuo manteve-se. Ainda pensei vingar-me. Começar a dizer a todas as crianças que ainda acreditavam no Pai Natal que não existias e ponto. Ou então, pregar aos sete ventos que os verdadeiros milagres do Natal são assegurados pelo Menino Jesus e não por um homem que quer passar a imagem de velhinho dócil, de barbas longas e enfiado numa vestimenta vermelha. Optei por não o fazer, em respeito à miudagem e não a ti – claro está.
Só consegui voltar a respeitar-te há 15 anos, numa noite de Natal que tinha tudo para ser igual a tantas outras, mas não foi. Coube-me a mim essa exigente tarefa de me fazer passar por ti (que ironia, não?). Era preciso alimentar o sonho junto da pequena Sofia, a minha querida sobrinha. E não. Não podia ser o pai dela a fazer de velhinho de barbas brancas. Ela ia começar a achar estranho o pai, progenitor, não estar presente no momento em que esse convidado especial, o Pai Natal, passou lá por casa.
Já lá vão muitos anos, é verdade, mas se há imagem que não esqueço é o brilho daquele olhar, o da Sofia, perante a presença do Pai Natal – eu, enfiada numa vestimenta vermelha e com umas barbas postiças a taparem-me o rosto. Naquela noite, percebi: se é para suscitar este tipo de encantamento nas crianças, então vale a pena manter essa magia que gira à tua volta.
Este ano, decidi voltar a escrever-te. Com um único pedido: continua a arrancar sorrisos nos mais pequenos, mantém esse encantamento nas crianças. Tenho consciência que nem todos vão ver os seus desejos cumpridos, mas só o facto de acreditarem em ti deve ser suficiente para lhes acalentar a esperança de que Natais melhores virão.
Para ti, Pai Natal, os votos de um Feliz Natal. Para todos vós, o desejo de que esta quadra festival seja repleta de magia.