Para muitos de nós, a região da Galiza, em Espanha, é um destino que já dispensa apresentações. Terra que nos recebe sempre de braços abertos, com boa comida e bom vinho, e um conjunto de cidades repletas de património, cultura e animação. E desengane-se quem acha que os seus principais atractivos moram apenas nos principais centros urbanos. Em cada vila ou aldeia encontrará algo para descobrir.
Foi essa a certeza que trouxe de Pontevedra, numa visita que abrangeu não só a capital da província com o mesmo nome, mas também os municípios vizinhos de Barro, Campo Lameiro, Cerdedo-Cotobade, Marín, Poio, Ponte Caldelas e Vilaboa. Por entre estradas asfaltadas, caminhos de terra batida, trilhos de pedra sobre a água ou à beira do mar, percebi que este é um desses destinos com múltiplas propostas.
Em Terras de Pontevedra – assim se chama o destino turístico – é difícil não ser surpreendido pela positiva. Banhada por duas rias (a de Vigo e a de Pontevedra), plantada entre os vales dos rios Verdugo e Lérez, esta é uma região de paisagens ricas e variadas que convidam a uma escapadela de fim-de-semana. Um roteiro de dois dias, com passagem por vários pontos de interesse naturais ou históricos e com início (ou fim) em Pontevedra, a capital.
A cidade foi, recentemente, destacada pelo jornal inglês The Guardian pela sua opção (e coragem) em banir os carros do centro. Sim, é verdade. Em Pontevedra é possível caminhar tranquilamente e sem ter de estar sujeito à poluição dos veículos motorizados. Felizes os que por ali habitam e também os turistas que a procuram.
Deixe-se perder no seu centro histórico – declarado Conjunto Histórico-Artístico em 1951 -, testemunho do esplendor medieval da cidade, época em que Pontevedra estava profundamente ligada ao mar. Há muito que ver por aquelas ruas mais ou menos estreitas, com esses pontos de visita obrigatória: as ruínas do antigo Convento de San Domingos, Basílica de Santa María a Mayor (declarada Monumento Nacional), e as igrejas de San Francisco, de la Peregrina e a de San Bartolomeu e Santa Clara.
Pontevedra é também terra de histórias e lendas. Como a do pirata Benito Soto (1805-1830), ali nascido e criado. Diz-se que terá escondido em Pontevedra um tesouro mas, passados tantos anos, continua sem ser descoberto,
Menos dada a especulações é a história que está na origem da tradição carnavalesca da cidade: a queima do papagaio. A festa evoca Ravachol, um papagaio que pertenceu a D. Perfecto e que viveu na farmácia que este tinha na Praça da Peregrina. Muito acarinhado pelo povo da cidade, pelos seus diálogos famosos e expressões, Ravachol acabou por morrer em pleno Carnaval (mais concretamente em 1913) e, reza a história, que o seu funeral mobilizou muita gente.
Saindo da capital da província para os municípios envolventes também encontrará vários recantos que irão prender a sua atenção. Ponte Caldelas, por exemplo, exibe uma beleza natural ímpar, sobretudo nas ribeiras do Rio Verdugo.
Destaque para a praia fluvial A Calzada, muito procurada por banhistas durante o Verão – tem Bandeira Azul – e que consegue ser também um local bem aprazível fora da época do ano mais quente. O ar puro do bosque que a envolve e o barulho da água a cair na presa de pedra convidam-nos a relaxar.
Outro dos locais mais bonitos do concelho, e igualmente banhado pelo Verdugo, são os Pasos da Fraga. Um trilho de pedras sobre a água, usado durante séculos pelos gentes locais.
A apenas 22 quilómetros da cidade de Pontevedra, Cerdedo-Cotobade é outro dos municípios que merece uma visita. Aproveite para conhecer o conjunto de gravuras rupestres das freguesias de San Xurxo de Sacos e de Viascón, bem como a Carballeira e Ermita de San Xusto. É aqui que, anualmente, tem lugar uma importante romaria, em honra de San Xusto y Pastor.
Também em Cerdedo-Cotobade encontrará as ruínas dos Baños de San Xusto, antigas instalações de banhos termais, situadas na margem esquerda do rio Lérez. A fama das suas águas era grande, razão pela qual era procurada por muita gente, oriunda de toda a província e não só.
O município de Campo Lameiro é apresentado como sendo a capital da arte rupestre galega. É no seu território que se encontra uma das maiores concentrações de gravuras rupestres de toda a Península Ibérica e, inclusive, da Europa.
No Parque Arqueológico de Campo Lameiro encontrará uma área aberta a visitas e um centro interpretativo que ajuda a compreender a importância e as origens da arte rupestre que ali é conservada.
Referência, ainda, para outros pontos de interesse no município: o Castro de Penalba (um dos mais antigos da Galiza), a Pedra da Serpe ou a Rotea de Mendo. No que ao património natural diz respeito, Campo Lameiro também conta com as suas belezas. A área recreativa de Lodeiro, por exemplo, goza da fama de ser um dos locais mais bonitos do rio Lérez.
Marín é particularmente conhecida pelas suas praias de areia final e água cristalina. As de Portocelo, Mogor, Aguete ou da Loira, são algumas das mais conhecidas, na certeza de que há muito mais para descobrir neste município para além das suas praias.
Vale a pena explorar o seu centro urbano, visitar o Museu Manuel Torres, caminhar por entre ruas estreitas e praças, descobrir a Alameda, com o seu palco de música e jardins, e descobrir o renovado Parque de Briz, com o seu encantador Parque de los Sentidos. Um lugar de ócio e recreio que parece ser especialmente apreciado pelos habitantes locais e percebe-se porquê. Mais do que uma área verde, aquele parque conta também com uma zona de jogos infantis, um auditório ao ar livre, escolas de música, entre outros atractivos.
Rodeado pelas águas do Lérez e da ria de Pontevedra, Poio é outro dos concelhos ao qual convém dedicar várias horas do roteiro pela região. Terra que combina a paisagem marinheira com a rural e que tem um importante património histórico e natural. A maior das suas pérolas, sem qualquer dúvida, é a povoação de Combarro, uma vila pesqueira que goza de uma beleza rara e que foi considerada, em 1972, Conjunto de Interesse Artístico e Pitoresco.
A característica mais evidenciadora da sua arquitectura reside nos mais de 30 espigueiros plantados bem junto à água. Destaque, também, para o seu casario, em pedra, e para os vários cruzeiros plantados nas pequenas ruas empedradas.
Ali mesmo em frente, está a ilha de Tambo. Inacessível por ora a visitas – por força de ter tido uma ocupação militar – sobressai na paisagem da ria de Pontevedra. Resta esperar que se confirme a sua incorporação no Parque Nacional de las Islas Atlánticas para que a possamos visitar.
Em Vilaboa moram mais uns quantos encantos naturais e históricos merecedores de uma visita. Começando pelo conjunto megalítico de Chan de Castiñeiras, onde se encontra a Mamoa del Rey, passando pelas estações de petróglifos da freguesia de Cobres, ou pela arquitectura religiosa (nomeadamente as igrejas de San Martiño, Santa Cristina e San Adrián).
Vilaboa foi também um importante produtor de sal, conforme poderá atestar numa visita à zona das Salinas de Ulló. Apesar de ali já não se produzir sal, aquela área goza de condições únicas para observar a fauna avícola do Lugar de Interesse Cultural da Enseada de San Simón. A zona está perfeitamente sinalizada e constitui, também, um óptimo lugar para caminhar ou passear de bicicleta. Forças nas pernas e bom passeio(s).