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O barão sonhou e o chão deu uvas

Sorte, acaso ou coincidência. Chamem-lhe o que quiserem, mas a verdade é que algo naquele convite dava a entender que não seria apenas “mais um” jantar vínico. A proposta para nos sentarmos à mesa do restaurante Egoísta, no interior do Casino da Póvoa de Varzim, no jantar vínico dedicado ao produtor Casal Santa Maria, da região de Lisboa, acabou por se revelar uma fantástica surpresa – na verdade, foram várias (surpresas).

Começando, desde logo, pela oportunidade de ficar a conhecer ao pormenor os vinhos deste produtor de Colares – e, muito em particular, a sua história. E, também, pela ementa do menu degustação criada pelo chef Hermínio Costa para casar na perfeição com os vinhos Casal Santa Maria – neste jantar, a opção passou por escolher primeiro os vinhos.

Com uma gama de excelência – em que se destacam os brancos, elegantes, salinos e de perfil muito diferente, mas também os tintos e rosés -, a marca resulta do sonho de um homem que decidiu ousar aos 96 anos: o barão Bodo von Bruemmer.

Em 2005, ele decidiu começar a plantar as primeiras vinhas e a tornar-se viticultor. “Basicamente, ele plantou as castas de que gostava, castas internacionais – aos 96 anos não se tem de andar a agradar a ninguém. Só mais tarde começámos a plantar, também, castas portuguesas”, enquadra o enólogo Jorge Rosa Santos, que teve a oportunidade de privar, durante vários anos, com o barão nascido na região da Curlândia, na Letónia, e que viveu até aos 105 anos.

Com uma experiência de vida de que muito poucos se podem gabar – só a título de exemplo: sobreviveu a duas guerras mundiais –, o barão tinha, também, uma faceta um pouco esotérica. “Usava um pêndulo para decidir muita coisa. Se a vindima era feita naquele dia, para perceber a energia das pessoas. A minha entrevista de trabalho foi feita com o pêndulo”, desvenda Jorge Rosa Santos.

Actualmente, o projecto é gerido pelo seu neto, Nicholas, mas a essência do sonho do barão mantém-se bem presente. A partir das vinhas plantadas entre o Oceano Atlântico e a Serra de Sintra, continuam a nascer vinhos muito frescos, minerais e elegantes, com a particularidade de serem marcados por fortes notas salgadas – ainda muito recententemente o Casal Santa Maria foi distinguido pela crítica norte-americana de Robert Parker e do Wine Spectator, que pontuaram com 93 pontos (em 100) o Ramisco Colares 2007 e com 90 o Malvasia Colares 2014.

 

Para o jantar vínico de 17 de Maio, foram seleccionados o Casal Sta. Maria Sauvignon Blanc 2016 (no bar), Casal Sta. Maria Malvasia 2015 (a harmonizar com Verrine de Lavagante, Lemon Grass e Gengibre), Casal Sta. Maria Chardonnay 2015 (Salmonete, Batata Ratte e Crumble de Azeitonas), Casal Sta. Maria Touriga Nacional e Merlot 2014 (Vitela Mirandesa, Beterraba Vermelha, Legumes Baby) e Casal Sta. Maria Colheita Tardia 2014 (Maçã Golden de Alcobaça, Kefir e Baunilha).

O casamento entre vinhos e pratos resultou na perfeição, restando-nos agora aguardar pelos próximos jantares do ciclo que está a ser promovido no Egoísta.

 

 

Uma opinião sobre “O barão sonhou e o chão deu uvas

  1. O pêndulo…e a vara de “vedor” para determinar o sítio mais adequado para captar água…. Conheço um padre que se posicionava no altar em determinado sítio, o mais adequado segundo as forças telúricas… Uma questão de centímetros…Mistérios… Gostei do barão, do lado sonhador e sobretudo esotérico…

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