Este texto tem de começar com uma declaração de “mea culpa” – sim, é isso mesmo. Durante anos a fio, a ideia de viajar até Bragança era acompanhada dessa imagem mental: uma condução até quase ao fim do mundo, por entre subidas e descidas íngremes e uma estrada de qualidade assim-assim. Ignorância pura e dura, como acabámos por constatar, muito recentemente, numa viagem turística à região, a convite da Associação Comercial, Industrial e Serviços de Bragança (ACISB).
Bem vistas as coisas, Bragança está a pouco mais de duas horas de distância do Porto e a via que serve a região (A4) oferece excelentes condições – palavra de quem é avessa a conduzir entre montanhas e vales. E agora que já por lá estivemos, juramos a pés juntos: mesmo que viagem fosse longa, ia valer bem a pena.
Inserida na região conhecida como Terra Fria Transmontana, Bragança é um desses locais feitos de gente hospitaleira e afável, de tal forma que, por mais que os termómetros desçam, o visitante sentir-se-á reconfortado pelo calor humano.
Sejam bem-vindos à cidade onde história e modernidade convivem em harmonia. A primeira está bem presente no Castelo de Bragança – que guarda histórias de reis, rainhas e de princesas encantadas – e na vila antiga, de ruelas estreitas que formam labirintos, e que é resguardada pelas magníficas muralhas. Já a modernidade está reflectida na arte urbana e nos equipamentos culturais como o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais ou o Centro de Ciência Viva.
Bragança é, também, terra de tradições. Costumes enraizados como aquele que tivemos a oportunidade de testemunhar aquando da nossa viagem: a Feira das Cantarinhas. De origem medieval, esta feira toma conta, uma vez por ano,das ruas do centro da cidade e é marcada por algumas particularidades que a tornam única e original.
Exemplos? É nesta feira que a comunidade local compra o “renovo”, que mais não é do que o conjunto de pés dos mais diferentes produtos hortícolas para plantar; e é nesta feira que se compra, quase obrigatoriamente, uma cantarinha.
Para quem não sabe, as cantarinhas são pequenas miniaturas das cântaras de barro que os trabalhadores levavam para os campos – para terem sempre água fresca – e que eram feitas à mão pelas oleiras de Pinela. Hoje, resta apenas uma oleira naquela aldeia a dedicar-se ao ofício, a D. Julieta, presença habitual na Feira das Cantarinhas.
Bragança revela-se também um destino de excelência para os amantes da natureza. Integrada no Parque Natural de Montesinho – tida como uma das áreas de maior biodiversidade do país -, esta região situada no nordeste de Portugal, possui locais de beleza singular, aldeias típicas, como Rio de Onor, que preserva tradições comunitárias.
Uma aldeia que pertence a dois países distintos (parte está integrada em território português, outra parte é espanhola) e que nem por isso deixa de ser um exemplo de união e boa vizinhança. “Esta comunidade vivia isolada e os problemas que iam surgindo entre eles tinham de ser resolvidos entre todos, incluindo os casos de justiça”, conta o nosso guia, António Sá, que, em 2001, elaborou um reportagem para a National Geographic sobre Rio de Onor.
O modelo de administração da aldeia era relativamente simples: a liderança era assegurada por dois mordomos, designados pelo “Conselho” – assembleia com representantes de todas as famílias da aldeia. “Tudo o que pertencia à parte comunitária eram eles [mordomos] que resolviam”, garante Mariano Augusto, um dos habitantes mais antigos da aldeia, exemplificando com o caso do cultivo das terras. “Como está tudo muito dividido, era preciso dizer os dias em que semeavam ou plantavam para não se estragarem as plantações de cada um”, exemplifica.
Outro dos exemplos dessa tradição comunitária era a existência de um boi comunitário para cobrir as vacas da aldeia. O pastoreio dos animais também era repartido entre todos, assim como os moinhos e o forno comunitários.
E sempre que surgiam problemas, era a “vara da Justiça” que garantia o cumprimento das regras e aplicava multas. “Tocava o sino para reunir o Conselho. E quem faltava já levava um risquinho na vara, que implicava uma multa de meio litro de vinho”, acrescenta. Também havia multas para quem faltava ao respeito a alguém, por roubo, ou outras situações, mas quase sempre a multa era paga em vinho.
Não é só pelas tradições, pelas paisagens e hospitalidade do seu povo que Bragança conquista quem a visita. A gastronomia da região é riquíssima e será difícil não sair de Bragança de barriga cheia, rendidos às suas iguarias ímpares – a posta de vitela, o galo no pote, pratos de caça, entre outros.
Tanto no centro da cidade como nas localidades limítrofes, há várias propostas de restaurantes de cozinha tradicional a considerar. Fica a nota daqueles que tivemos a oportunidade de visitar e que nos mereceram avaliação positiva: Restaurante D. Roberto, Restaurante A Lombada, Restaurante Típico O Javali, e Tasca Zé Tuga. Referência ainda para a unidade hoteleira onde ficámos alojados, Hotel São Lázaro.
Que fome com que fiquei induzida pelos saborosos comeres do meu distrito
Abraço
Muito legal!?
Fantástico este post, adorei ter conhecido voce en Bragança. Espero que nos voltemos a encontrar de aqui a pouco. Feliz semana.
Obrigada Alberto. Espero por novo encontro. E fico a torcer pelo sucesso do teu blog. 🙂