A culpa talvez seja da música. Ou da gastronomia. Sem esquecer a história, a arte, e as tradições populares. Na verdade, a culpa deve ser de tudo isto. E também de muito mais. Com a sensação de que a aventura “vivida” por Gael Garcia Bernal e Diego Luna no filme “E a tua mãe também” (realização de Alfonso Cuarón, 2001) também veio ajudar à festa. Que é como quem diz: trazer o México para o nosso imaginário. Um país que para muitos ainda é apenas sinónimo de umas férias em praias paradisíacas e inesquecíveis – com direito a visitar antigas ruínas, de origem asteca e maia -, mas que, verdade seja dita, é muito mais do que isso, como deixa adivinhar, desde logo, a sua dimensão (são quase 2 milhões de quilómetros quadrados de área e mais de 119 milhões de habitantes).
É impossível falar no México como um só destino. São muitas as opções e locais a visitar, num périplo que exige tempo (semanas) e que, pode e deve, ter epicentro na capital: a Cidade do México. Afastada das praias que ainda são o principal motivo de atracção ao país – a cerca de quatro horas de distância de carro tanto para a costa do pacífico como para a costa do Golfo do México (de avião, a duração da viagem é encurtada para pouco mais de uma hora) -, a capital do país é, sem sombra de dúvida, um destino obrigatório e que carece de vários dias para ser descoberto.
Esqueça aquela ideia de fazer uma paragem de dois ou três dias na capital antes de partir para outros territórios. A Cidade do México tem uma lista infindável de atractivos e de experiências que roubam a nossa atenção e por mais que nos apressemos a calcorrear as suas ruas, praças e museus, no fim, vai ficar essa sensação: ainda há tanto para ver, ouvir e degustar. Mas com uma certeza: viverá dias simultaneamente enriquecedores e extenuantes – sim, a cidade tem um quanto de caótica, especialmente em matéria de trânsito.
Uma das questões que importa resolver, ainda antes de partir para a Cidade do México, é escolher a localização do alojamento (acredite: a capital é muito grande). Fica a dica: a área do Paseo de La Reforma, na animada Zona Rosa, ou o sofisticado bairro de Polanco, são as melhores opções, em matéria de centralidade e, também, de segurança. Se a opção passar pelo Paseo de La Reforma, uma das avenidas mais importantes da cidade (tem 12 quilómetros de extensão), a tarefa fica facilitada, uma vez que é nela que encontramos um dos monumentos mais importantes da cidade, El Ángel de la Independencia, erguido em 1910 em comemoração ao centenário da Guerra de Independência Mexicana.
É também neste troço final de La Reforma que se encontra esse grande pulmão verde, o Bosque Chapultepec (dizem que é o segundo maior parque urbano da América Latina). Uma área propícia a caminhadas e passeios, e que também alberga importantes atracções da cidade, como é o caso do Zoológico de Chapultepec, do Museu Nacional de Antropologia e do Castelo de Chapultepec. Este último, que foi palácio imperial e residência presidencial, está situado no alto de uma colina – oferecendo uma vista magnífica para a cidade. Funciona como museu nacional, e constitui um excelente ponto de partida para a descoberta da cidade e do país, uma vez que conta a história do México (desde a pré-colonização até aos dias de hoje).
Igualmente de visita obrigatória, no ponto oposto da avenida La Reforma, encontrará a principal praça da capital, El Zócalo, e o centro histórico da cidade. Sem sombra de dúvida, uma praça imponente – é apresentada como o coração da Cidade do México, tendo sido construída na área que foi o epicentro de Tenochtitlan (capital da civilização asteca) -, e que nos provoca essa sensação de não sabermos muito bem onde devemos reter a nossa atenção: há vários edifícios que saltam à nossa vista (e que são dignos de uma visita), começando, desde logo, pelo Palácio Nacional, sede do governo -, e pela Catedral Metropolitana. Nas ruas vizinhas, há toda uma cidade a pulsar à volta de inúmeros estabelecimentos de comércio popular (não é exagero: são muitos) e igrejas. E não muito longe dali, também, a imperdível Praça Garibaldi, conhecida pelos tradicionais grupos de Mariachis, que encantam os turistas a tocar ao vivo – pelo preço de 100 pesos (5 euros) a canção – e pelo Museu da Tequila e Mezcal.
Grande parte da essência da Cidade do México reside na arte. E nem seria de esperar outra coisa da cidade onde nasceu e viveu a artista Frida Kahlo e o seu companheiro Diego Rivera, que ainda hoje são duas das principais referências mundiais da cultura mexicana.
Entende-se, por isso, que a casa onde habitaram, a chamada “Casa Azul”, constitua um dos pontos de visita obrigatória na capital mexicana. É lá que é dada a conhecer aos visitantes a história de vida da artista, ilustrada com vários objectos pessoais e íntimos, e também algumas das suas obras mais importantes – Viva la Vida (1954), Frida y la cesárea (1931), Retrato de mi padre Wilhem Kahlo (1952), entre outras.
E para os que buscam um roteiro dedicado à arte é obrigatória a visita ao icónico Palácio de Bellas Artes, situado na zona do centro histórico, e tido com uma espécie de sede das artes do México (exibe obras dos famosos muralistas Diego Rivera, José Clemente Orozco, David Alfaro Siqueiros e Rufino Tamayo).
O aviso de que a estadia na Cidade do México carecia de vários dias já tinha sido deixado logo no início deste texto e não foi por acaso. É que há alguns atractivos imperdíveis que ficam situados fora da capital e a sua descoberta requer algumas horas mais. É o caso das Pirâmides de Teotihuacan e do Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe.
Em Teotihuacan, zona arqueológica também chamada de “Cidade dos Deuses” – e que conserva os vestígios de uma das civilizações mais importantes de Mesoamérica – vale a pena perder algum tempo (e as vertigens) para subir às majestosas pirâmides – na mais alta, a Pirâmide do Sol, são 243 degraus. Não se preocupe com as energias gastas pois, bem próximo do parque, irá encontrar um restaurante que o desafia a repor todas as calorias – e outras tantas mais – e que é, ele próprio, um local impressionante, uma vez que está plantado numas grutas (Restaurante La Gruta).
E por falar em gastronomia – deixámos o mais saboroso, o tal tempero de que fala o título, para o fim -, a Cidade do México é profícua em bons restaurantes. Há muito por onde escolher e saborear, mas, se nos é permitido, há locais obrigatórios, especialmente para quem procura conhecer as tradições da comida mexicana. Disso é exemplo o Azul Histórico – que faz parte da cadeia Azul -, situado em pleno centro (Rua Isabel La Catolica), num pátio de um antigo e belo palácio -, e onde é possível degustar o que a comida mexicana tem de melhor. Sem esquecer as bebidas, claro está, mais concretamente as margaritas e as palomas (cocktail que também é feito à base de tequila).
Para quem procura misturar a degustação da comida tradicional com a animação musical dos mariachis, a oferta também é variada (experimentámos o El Lugar Del Mariachi). E quando as papilas gustativas começarem a acusar o cansaço de tanto picante, pode “fugir” para uma das inúmeras propostas de cozinha internacional.
Se o orçamento permitir, o ideal é “escapar” para o bairro de Polanco, mais concretamente para a chique Avenida Presidente Masaryk, onde encontrará magníficos restaurantes (alguns dos quais, internacionais). Bom apetite! E, se for caso disso, boa viagem. Pela nossa parte estamos de partida para Puebla e, em breve, vamos dar nota dessa aventura.
Será uma próxima paragem, sem dúvida! E vou tentar ir por altura do 1 de novembro! 🙂 Artigo muito interessante, completo e estimulante! 🙂
Boa viagem. O destino é fantástico!